Só falta a palmatória (Editorial)

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A distribuição de livros com narrativas de sexo e violência, realizada nas escolas públicas
pelo MEC, põe em pauta mais uma vez os rumos da educação no país. O assunto que foi
matéria desta Folha (“MEC entrega a adolescentes livro que narra estupro”, Folha de S. Paulo,12/08/2010),
como era de se esperar, gerou polêmica e dividiu opiniões. De um lado uns apoiam a medida,
argumentando que o livro abre a oportunidade do debate nas escolas, já na contra-mão outros
enxergam tal ação como algo lamentável, que não contribuirá para uma formação sadia e
responsável. Mas a questão vai além da utilização ou não dos livros, leva nossos olhares para
a canonização das escolas, que tem ocorrido nos últimos anos.

A escola numa espécie de tentativa de preservação, congelou seus currículos. Os tempos
mudaram, a sociedade se transformou mas continuamos ainda com os mesmos livros didáticos
da época da Ditadura. O medo em estragar essa instituição que parece o único meio de
progresso intelectual, impede as alterações necessárias para que a lógica de sua existência
se mantenha. Segundo a própria escola, sua missão é: “ASSEGURAR UM ENSINO DE
QUALIDADE, GARANTINDO O ACESSO E A PERMANÊNCIA DO ALUNO NA ESCOLA,
FORMANDO CIDADÃOS CRÍTICOS, CAPAZES DE TRANSFORMAR A REALIDADE.”,  trecho
extraído do regimento do Col. E. Duque de Caxias (PR). Mas como esperar uma transformação
da realidade atual se inserimos nossos jovens num processo educacional que os priva dela?

A polêmica sobre a distribuição dos livros com contexto violento e sexual, citado no início da
matéria, é apenas um dos vários exemplos que podemos citar sobre a censura que alguns
educadores impõem sobre o mundo real. Quase metade dos nossos adolescentes já possuem
vida sexual ativa, e mesmo assim a escola fica alheia a educação sexual. Estudantes são
mortos dentro das próprias salas de aula e alegando defesa a dignidade e a integridade de
caráter negamos o debate sobre a violência. É preciso trazer o problema para a turma. Nossos
jovens estão acomodados num sistema em que o professor fala e eles são obrigados a engolir,
sem digerir, tudo que lhes são ditos. Essa premissa tem de mudar. A formação de um cidadão
crítico depende do debate.

Além disso, é necessário rever os meios didáticos oferecidos ao longo do processo de
formação. É incrível como a televisão ainda é diabolizada por muitos professores. A internet,
que é sem dúvidas o meio de comunicação preferido da geração 2000, raramente é explorada,
sendo lembrada apenas nos clássicos sermões sobre o tempo em que as pesquisas eram
feitas na biblioteca. Toca-se o sinal e numa espécie de teletransporte levam-se os alunos
para um mundo onde tvs, computadores, video-games, celulares, simplesmente não existem.
Trancamos nossos estudantes em salas onde o mais próximo que chegam da atualidade são
os calorosos debates sobre o aquecimento global.

É possível sim uma convivência pacífica entre os logaritmos e a educação no trânsito, por
exemplo. Camões e Felipe Neto podem amigavelmente dividir as aulas de literatura, por que não? Na escola do século 21 não há mais espaço para delimitações. Portanto, ou quebra-se
logo esse muro que separa as salas de aula da realidade ou então teremos uma educação
cada vez mais distante daquilo que deveria ser.

(Simulação de um editorial para o jornal Folha de São Paulo)

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Vanessa Vilaça 6 de setembro de 2010 às 00:16

Troquemos livros didáticos com metodologias da "idade da pedra" por professores competentes que usem metodologias próprias e modernas e por alunos/cidadãos mais críticos e preparados!