Inércia

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Pés no chão para não se esvair a memória, sola em solo, nada muda - é bom lembrar. Ainda faltam pernas às palavras, que nos mantém iguais. Permanecemos estáticos, escorados e omissos. O discurso vem de série, individual é o caminho e a forma de andar. 

Calor do amor

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Não ame, seja breve, indolor. Queria que sentisses  o calor que me passa quando vejo sua beleza por olhos não comuns. Não a beleza para os outros, mas a que achei para mim. Se quebro a rotina e me permito descompassos, faço pelo incomum. O amor é para todos, o amar para os que transbordam. E ainda que me encontre vazio por vezes, não me acomodo em medidas regulares. Feito peixe, nado em imensidão e amo em igual semelhança. 

Ponta de campina

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É tempo de alma, inquieta alma de ansiedades. Em meio a rotina da pressa, que não se deixa pensar e faz das palavras deserto, a cegueira tapa - como se tudo estivesse tão bem. Difícil é se achar de novo e, por mais estranho que pareça, aperta a saudade dos olhos que costumavam marejar. Não é falta da tristeza, mas ausência do pedaço de infância que faz a gente amoado de vez em quando. Queria saber em que trilho se perdeu a percepção de que sou sozinho, pra onde foi a dor que fazia chorar. Não peço amargura, mas me falta imensidão. Nesse fôlego tento calma, sim e por favor, um pouco mais de humanidade. Então me faço um acordo - pelo menos hoje não me apresso. 

Vinte

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foto de Hermano Armir Araújo Sater

A vida não para. Independente se o corpo cansa e a mente pede sombra, o tempo segue. Viver é tão raro que só se pode uma vez. Hoje os sorrisos não se dão pelo feito, mas sim pelo inacabado e por aquilo que se pode fazer. Amanhecer significa outra chance e mais espaço. O mundo gira e aí é viver, mesmo que as vezes teimando. Que seja longo o caminho, pois tenho sobra de fôlego. Andemos, andemos... a vida é imensidão.

Anunciação

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Ora, tanto tenho dito e desatado em palavras por estas bandas que até me engasgo a certas horas. Mas neste instante, ao despedir das estrelas, me debruço sobre meus anseios e arrisco algo para a última alvorada do agora. Com breves olhares para trás e doses homeopáticas de ansiedades distantes tento trazer o futuro para cá, junto da minha janela. Não que eu queira enquadrar o mundo aos limites do meu horizonte, mas é grande a vontade em ver a tal anunciação. Evito, ao menos hoje, falar em abandonos e apegos, apenas abrindo os olhos pressa bruma leve de novas liberdades. Me alivia um sorriso em sincronia ao Redentor - bom presságio. Meu peito pulsa junto a criação - desejo de vida. Talvez até pudesse ser mais claro, mas é que o perfume desse novo tempo é tão subjetivo que me traz apenas uma certeza, a de que em vem felicidade.

Julho

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Disseram que paixão é turbulência e amor calmaria. Me contaram, que um é intenso e o outro brando. Mas de novo, só pra ser do contra, tenho que discordar. Carrego dentro de mim um sentimento que nasceu do vazio, e fez morada por aqui aos poucos, construindo, talvez, o amor mais paixão que se tem notícia. O tempo e o vento, de testemunhas integrais, assistiram a entrega, a despedida da estabilidade e a passagem de momentos singulares de descontrole. Olhando para trás vejo seu cheiro e enxergo sua presença, e isso me traz um aperto, porque te quero de mansinho, não de arranques. A gente apanha, sofre, abre uma ferida, e mesmo assim tem de andar. As vezes é preciso mais do que noites em claro e um choro desatado para se entender a vida. E aí é o diacho! 



Santa Fé

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Fecho os olhos e zonzo embriagado pelo cheiro dos campos. Em meu peito pulsa o ritmo do vento minuano, que passa como quem já é de casa e não se acanha em deixar a saudade. "Noite de vento, noite dos mortos", que por um acaso talvez ainda vivam, mas escondidos pelo cansaço do tempo ou pelo desânimo de um coração abatido. 
E aqui, sentado frente ao corredor e sob essa luz baixa do acalmar do dia, concluo que as vezes a vida é tão mansa, que chega a ser triste. Mas uma tristeza boa que da até uma vontade de chorar. Como refletia o saudoso Cap. Rodrigo Cambará, 'é mui bom estar vivo'. 
Quero ir além da província, conhecer moças mui guapas doutras estâncias, pelear muitas guerras, cantar alguns versos, comer um bom churrasco. 
E mesmo que as vezes tenha a alma apertada, junto a sentimentos doloridos e olhos embaçados eu sigo. Sigo porque é mui bom estar vivo, e apenas vivo se tem um sorriso que cure o tempo.