Setenta vezes sete

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Porque assim como as dores da carne são diferentes das da alma, também deve ser o arrependimento. Arrepender-se vai além de um "desculpe-me" e perdoar requer muito mais do que um simples "eu te perdoo". O preço do perdão de um sentimento ferido é bem mais caro do que hipócritas falas decoradas. O preço de um perdão deve ser pago com mudança. Mais do que palavras, aliás, dispensáveis palavras, a transformação de um caráter sujo, ou de atitudes duvidosas, fazem mais barulho do que mil gritos de remorso. E é aí que mora a diferença dos verdadeiros arrependidos, daqueles que se preocupam. Aqueles que amam, se importam, erram e se redimem - com atos; já os indiferentes pecam e seguem adiante, sob a covardia de sua humanidade, alegando que aquela é sua natureza e que um dia mudarão. Disse Jesus que devemos perdoar não apenas sete; mas até setenta vezes sete. E é o mesmo Cristo quem nos alerta à transformação verdadeira. Antes sermos frios do que mornos, porque os mornos serão vomitados. Antes não se arrepender do que confessar uma contrição falsa, sem anseio de mudança. Por isso, podemos dizer que só há mudança com amor e pelo amor. Porque o amor tange a alma, ao contrário da carne que se redime momentaneamente, apenas em períodos breves de conveniência. Porque o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... perdoa. Não há falha ou queda que desate um sentimento verdadeiro, ou que consiga separar corações que batam em sintonia. Porque o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... tudo refaz. Não há mudança que não se faça, por mais difícil que pareça, para aqueles que amam e não querem se perder. O preço do amor é a renúncia, a entrega... e eu chego as sete, para perdoar setenta vezes sete.