Alvorada

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Eu só queria que isso tudo passasse, que as pessoas se amassem; ver meu filho crescer. Um alívio se fosse embora essa tristeza, esse egoísmo que constrói a dor. Te queria aqui do meu lado, mas já me contento em estancar o fluxo desse coração que você arrancou. Porque faz parte do humano ser pobre e podre, individual, indiferente - isso que machuca a gente, faz questionar o amor e se isso tudo é nosso luar certo. Luar que muda de fase em fase e se altera num instante indo embora como se não precisasse dar satisfações. Ninguém é dono de ninguém, o desapego é meu e isso não vão me tirar. Mas não me digam que não é preciso ter cuidado. Não tentem me convencer o contrário de sua covardia - seu lugar de fuga em meio aos seus interesses. Em um pedaço de mundo onde encontro anseios que essa vida não pode satisfazer, só concluo que não fui feito para esse lugar. Existe uma alma que se move em mim, um pranto de retirada. E assim como os anciões, bato o pó de minhas sandálias frente a ti, como sinal do meu desprezo. Boa noite, viaje bem, meu maior consolo é saber que jamais encontrará o que tanto procura, em sua limitada busca terrena. Eu fico por aqui, meu tempo é apenas um fôlego e eu o respirarei. As lágrimas podem durar uma noite, mas a alegria resplandecerá, junto aos raios da alvorada.