Perecível
Eu só sei que fico miúdo, do meu jeito quieto, pensando no estar. As palavras ditas ainda zonzam, os olhos marejam e o miocárdio se contrai. Eu fico pequeno, me perco e desabo. Não nasci para o desapego, prefiro a rotina do cuidado, dos carinhos e da permanência. Porque se fica é porque se tem amor, e isso basta. E me basta porque escolhi ser coração e não carne. Coração é trilhar por um caminho instável, é ser dependente do outro e assumir o plural. Somente aqueles que vivem pelo coração sabem de sua dor, mas conhecem o significado dos sentimentos não perecíveis. E assim a carne é, perecível - e eu me recuso. Me recuso a prostituir o que tenho como amor, por míseros instantes de instinto. Porque o físico se degrada, e vai-se embora deixando o vazio. E não quero ser vazio. Anseio ser inteiro, quero crescer, transbordar. Por isso não me vendo, mas amo. Não me corrompo, insisto. Faz parte da minha natureza não querer ser só - ser só prazer, só egoísmo, só instinto, só carne.
Postar um comentário